Conversando consigo

Hoje quis ouvir algumas coisas sobre o caminho que percorri ao longo da vida. Olhei para o horizonte e avistei uma pedra no alto da paisagem, fui até ela e sentei.

Comecei a refletir sobre meus sonhos de criança e meus projetos de adolescente, percebi que hoje é tudo diferente e quis entender o motivo para isso: Por que a vida não me proporcionou aquilo que eu queria e sim coisas que nunca cogitei?

Quando eu fiz essa pergunta, fechei os olhos e quando abri, tinha uma pessoa sentada ao meu lado. Vestia algo parecido com uma burca, mas era toda branca, eu só conseguia ver que tinha alguém ali por conta da renda que cobria os olhos.

Eu fiquei observando por alguns instantes e quis saber se essa pessoa estava ali mesmo, tentei tocar seu ombro quando uma voz angelical disse: Estou aqui! Diga, o que quer saber?

No mesmo instante dei um pulo para fora da pedra, meu coração acelerou e ela continuou: Se antes mesmo de saber os motivos seu coração acelera, fico imaginando sua reação quando souber!

Respirei fundo, voltei para a pedra e resolvi conversar: Então você estava me vendo o tempo todo aqui na pedra? Sabe o que perguntei para a vida? E sabe a resposta?

– Olha, eu não estava apenas te vendo ou ouvindo aqui na pedra, eu te vejo e ouço desde sempre. Estava contigo em todos os momentos que você sonhou e planejou sua vida, assim como, em todos os momentos que seguiu por caminhos tão distintos. Você acha mesmo que não sabe os motivos? Peço que me ouça e no final, se tiver alguma coisa para falar, conversamos!

Quando você fez planos, a vida te deu meios para isso. Ela só não disse quais eram esses meios e também não facilitou as coisas. Seu coração sempre soube o caminho para chegar onde queria, o problema foi que você se perdeu quando entendeu que tudo tem, minimamente, dois caminhos, igual aquela história que todos conhecem, sabe? A menina do capuz vermelho que sabia que o caminho mais curto era arriscado por conta do lobo e que o mais longo, apesar de sofrido, era o mais seguro porque daria a paz necessária para se caminhar.

Assim como a menina, você sempre soube. Quando a vida lhe trouxe um amor, você desacreditou dele, achava que esperar a hora certa ou que um dia ele seria possível era trabalhoso demais, preferiu se agarrar ao que estava ao seu lado, mesmo sabendo que não era esse o caminho, a vida entendeu sua posição e respeitou.

O tempo passou, esse amor continuou dentro de você, e a vida não só quis te dar oportunidades, como ela deu! Colocou no seu caminho pessoas que te libertariam dessa ideia de romance, com isso, você estaria pronto para se entregar. Sei que é estranho achar que uma pessoa surge para nos entregar à outra, mas foi essa a oportunidade que a vida te deu, não uma vez, mas várias.

Hoje você ainda está preso na ideia de romance, quase entendeu o que deveria ter feito, e mais uma vez recuou. Fico imaginando se eu tivesse te dito: “Acredita! Mesmo que pareça loucura de adolescente, ela é o grande amor da sua vida!” Você teria acreditado? Você via uma pessoa distante, vivendo coisas, conhecendo pessoas, crescendo, seguindo. Certo de que nunca teria uma chance, você também seguiu.

A vida não só colocou pessoas no seu caminho que te levariam a ela, como também tirou todas as pessoas que poderiam atrapalhar sua visão, deixou o caminho praticamente aberto para você. Mas você já estava preso à uma ideia de romance, numa situação cômoda e com o coração morto.

Então a vida, danada que só, te deu a oportunidade de ouro, usou da sua maturidade de vida e percepção de tempo com a personalidade descontraída dela e provocou um momento entre vocês.

Você se sentiu pleno para voltar no passado e reviver o vigor da juventude, seu coração não só despertou como reconheceu quem era ela e o grande momento chegou: Ela está ao seu lado, sem amarras, sem história, só vocês dois!

Opa! Calma ae, não! Tem a ideia de romance que te acompanha até hoje. Você precisa de uma certeza de que não é um sonho, quer sentir, tocar, amar, para saber que é real. A vida diz: Ok! E ela te diz: Eu te desejo também e quero saber se é real!

Então os corpos se encontram, os sabores se misturam e as lembranças transbordam. Você não sabe se era apenas desejo ou amor. Ela, por segurança, aposta no desejo porque sabe que você tem medo do amor, sua ideia de romance distorce tudo. Os dois permanecem na inércia do silêncio ensurdecedor.

Então você vem até aqui, senta numa pedra e pergunta: Por que a vida não me proporcionou aquilo que eu queria e sim coisas que nunca cogitei? E eu apareço para te dizer: A vida sempre te deu meios para chegar ao seu desejo mais sincero. Você que não acreditou que o correto era se desprender da ideia de romance para se entregar ao amor. As pessoas que cruzaram a sua vida, te deram essa a parte da visão, mas você com medo, recuou e tornou à escuridão.

Hoje, a vida te deu a última oportunidade, ela cruzou os cominhos de vocês, enfim suas curvas deram em uma única reta. A questão agora não é mais essa, agora a vida que te questiona: Você acredita?

– Pronto! Terminei! Tem mais alguma questão?

– Quem é você?

– Eu sou uma parte de você!

– Qual?

– A razão! Que compactua com a sensibilidade do coração, mas, não é conivente com falta de coragem para seguir o que ele diz.

Árthemis

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